18.6.13

Será?

Tenho lido bastante sobre o que vem acontecendo no Brasil. Num primeiro momento o sentimento foi de confusão por não visualizar uma única voz nestes movimentos. Mas, esta noite sem conseguir dormir, me vi bastante emocionado por identificar no âmago desta necessidade de mudança um paralelo entre a minha história e a história recente do Brasil.
Sou filho de pedreiro com empregada doméstica, favelado, pobre. Cresci estudando em escola pública e ingressei na faculdade graças ao Pro Uni, programa do Governo Federal. Acordava às 4:30 da manhã para conseguir cruzar a cidade, saindo da Zona Oeste em direção a Zona Sul. Era necessário pegar uma Kombi até a estação de trem, depois viver a sina do transporte sobre trilhos até a estação de São Cristóvão e, após isso, um ônibus até a Gávea, a aula começava as 7h. Foram longos quatro anos e meio.
Apesar de trabalhar desde os 13 anos nunca soube o que era ganhar dinheiro e, consequentemente, sofri um choque social enorme com a convivência naquele mundo que, definitivamente, não era o meu.
Aquele moleque, morador de Realengo tinha a chance de conseguir algo na vida. Após isso tudo posso dizer que sou prova da mudança socioeconômica que a classe C sofreu nos últimos anos. Eu cresci junto com o Brasil.
Na ultima segunda feira, enquanto pessoas se dirigiam até a Praça da Candelária eu estava saindo de lá, naquele momento a única coisa que me vinha à cabeça era fugir do trânsito que seria causado pelo transtorno do protesto, afinal, se eu não trabalhar ninguém vai pagar minhas contas.
Hoje depois de ouvir bastante gente que tem um monte de opiniões definidas e concretas sobre as manifestações, não consigo concluir muita coisa. Têm pessoas protestando por um transporte público de qualidade; bons hospitais; um PS4 mais barato; contra o Feliciano; contra a corrupção; contra prefeitos, governadores; enfim. Não vejo uma bandeira, vejo sentimentos. Quando tento fazer silêncio para ouvir a multidão, escuto tudo e ao mesmo tempo não ouço nada. Não existe uma tese clara comum, o que percebo é a vontade de gritar. Estamos cansados! Alguém me escute! Não são só R$ 0,20 centavos!
A mesma juventude individualista que acumula amigos nas redes sociais e conversa cada vez menos com os Pais na mesa do café da manhã resolveu abrir os olhos. Será?
Tenho pouco conhecimento histórico sobre movimentos sociais e populares, mas fico com a sensação de que o principal legado (palavra da moda) que teremos destas manifestações não serão as mudanças na estrutura social e/ou política. Penso que seria maravilhoso se essa juventude conseguisse olhar pra si e perceber que a mudança precisa ocorrer primeiro nela. Quase tudo que criticamos fazemos igual, talvez em escala menor, mas sim, sem hipocrisia, vamos reconhecer que somos fruto do meio.
Se não mudarmos dentro de casa, não vai adiantar chamar a atenção do resto do mundo.
Chorei ao ver a minha geração lotando o centro do Rio de Janeiro, fiquei triste por não ter percebido antes que também deveria estar lá. Mas não adianta estar na rua fazendo história, marcando uma época, se não decidir mudar dentro da minha casa.
O que vou fazer pra tirar o Filho da Puta do governante que estou chamando a atenção do poder? Quero muito que ele mude! Bom, mas preciso mudar também.
Obs: Apoio todos os movimentos, inclusive os mais radicais. A opinião acima é apenas um desabafo mais radical sobre os amigos que vi de cara pintada na Presidente Vargas e que subornaram um policial na Blitz que foram parados na semana passada.

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